
Faz mais de 40 anos que a primeira pílula anticoncepcional masculina foi produzida e aprovada. Começou a ser pensada logo após as pílulas femininas, mas havia muita desconfiança entre os homens. O medo de afetar permanentemente a ereção e a produção de espermatozoides, dificultava o recrutamento de novos voluntários para pesquisa. A indústria farmacêutica também mostrava preocupações em relação ao retorno financeiro do investimento.
Vários produtos foram testados, mas o relato dos homens é que reduziam o desejo sexual, alteravam humor e geravam acne. Interessante, porque esses efeitos colaterais há muito têm sido a queixa da maioria das mulheres que usam métodos hormonais, porém elas “toleram”. Elas precisam tolerar porque a “contracepção cabe às mulheres” (bem entre aspas!). O impacto de uma gestação (não planejada) é, incomparavelmente, pior que o efeito de qualquer método contraceptivo sobre o corpo feminino.
Lentamente a mudança de mentalidade vai empurrando a ciência em busca de novas tecnologias. Elas poderão mudar o tom da prosa entre os homens e a escolha da melhor opção contraceptiva vai entrar na roda de todas as conversas. As novidades são ótimas.
Está aguardando ser aprovado comercialmente na Índia o hidrogel injetável (Risug), que consiste na injeção de um polímero (estireno-anidrido maleico) no canal deferente (testículo), formando uma espécie de espuma que bloqueia a passagem dos espermatozoides. Trata-se de opção barata, eficiente, segura, sob anestesia local e reversível, com baixos efeitos colaterais, pois não é hormônio. O esperma ficará infértil por até 13 anos, com taxa de sucesso de 97,3%. O procedimento pode ser revertido com a injeção de um “antídoto” que dissolve a espuma e desfaz o bloqueio. Nos Estados Unidos, o concorrente (Vasalgel) também está sendo desenvolvido.
Anticoncepcionais hormonais masculinos estão sendo prospectados nos Estados Unidos, tanto na forma de gel para uso transdérmico nos ombros e costas (NES-T), como pílulas para uso oral diário (11-beta-MNTC, que “desliga” a produção a produção de esperma e DMAU-dimethandrolone undecanoate, que associa testosterona com progesterona). Está ainda em estudo a Eppin, uma pílula que atua em proteínas de superfície dos espermatozoides, reduzindo a motilidade, sem qualquer efeito hormonal. Um verdadeiro alivio para preservação da libido. Porém todos esses produtos, exceto o Hidrogel Risug indiano, ainda enfrentaram desafios econômicos, técnicos e culturais sem previsão de chegar ao mercado por enquanto.
Embora ainda não comercializados, esses métodos já estão dando o que falar. O futuro será um tempo de maior compartilhamento da responsabilidade reprodutiva entre homens e mulheres.